terça-feira, maio 16, 2006

Microcontos: Estado de defesa

Macacos me mordam, disse a banana.

“Desculpem o transtorno”. Ele não fez por mal.

Um dia ele acordou, olhou para a mulher ao seu lado e viu a sogra.

A ignorância é um dom.

Volto a repetir.

De tanta preocupação em estar doente, fumou um maço inteiro de cigarros.

domingo, maio 14, 2006

Texto: Sujeira

Você me vê de dentro do conforto do seu automóvel.
Conforto que eu não tive nem dentro do útero.
Você me repudia, me enxota, me escarra e passa as mãos frenéticas sobre os braços, como que se purificando da minha sujeira.
Você pensa que está a salvo dentro do seu carro, da sua casa, apartamento ou escritório.
Mas eu estou em todo o lugar, você me vê na tevê, da janela do seus olhos eu estou sempre a sua volta, esteja você onde estiver.
Eu não ligo para o que você acha razoável.
Eu quero a discórdia, eu quero emporcalhar tudo. Quero tornar tudo feio, tudo sujo.
Não adianta você tentar acabar comigo, eu me reproduzo muito rápido. Para cada um que morre outros tantos nascem nas filas dos hospitais, no meio da favela, no meio do lixo. O meu instinto é reproduzir vou vencer você quantitativamente.
Não quero sua ajuda, muito menos sua esmola. Quero sim, roubar seu dinheiro, seu carro, sua vida. Vou me deitar com sua filha, ela vai me levar para dentro da sua casa. Ela vai gostar de mim. Vai dizer que eu estou certo e não você que sempre fez tudo por ela.
E não adianta você querer me evitar, eu sou inevitável eu sou o seu destino. E quando você menos perceber, você vai estar aqui e eu dentro do seu carro.

Poesia: Vida Moderna

Não era um homem muito inteligente,
Mas aprendeu, de maneira muito sofrida,
Lições sobre coisas da vida,
Sobre nossos tempos e coisas da mente,
Sobre o veneno que nos contamina,
Lições que quem sabe; e quem sabe?
Não ensina.

Procurava no passado um ponto de fuga.
Traçava perspectivas como forma de auto ajuda,
Media o tempo, mas o tempo sempre muda
Então esfumava o pensamento e
Apagava tudo com a cara sisuda.

Buscava a liberdade dentro de um planejamento milimétrico,
Um projeto adequado, com metas e prazos.
Uma estrutura analítica toda focada em resultados,
Um escopo aderente ao sucesso esperado.

Procurava um amor escalonável
Com um relacionamento sustentável
Com mulheres tornassem seu projeto viável
O máximo que conseguiu foi se tornar insuportável.

Desabafo: Propaganda é a arma do negócio

Está se tornando, hoje em dia, praticamente impossível se assistir televisão, não vou nem me ater ao conteúdo programático das redes de televisão, que com uma ou outra rara exceção apresenta bons programas. Mas vou me concentrar nas propagandas. A propaganda de televisão é uma das partes mais caras de uma campanha publicitária, onde estão envolvidos diversos profissionais dentre atores renomados, diretores, figurantes, técnicos entre outros. O mínimo que poderíamos esperar era uma propaganda de qualidade, que não agredisse nos olhos e ouvidos e não insultasse nossa inteligência.

As propagandas de remédios, principalmente as de anti-gripais são escorchantes. Cada vez que vejo uma, fico pensando como eu devo ser um tremendo idiota, pois se eu posso ser convencido com um slogan do tipo “É gripe? Benegripe”, o William Bonner está certo e eu sou um Homer Simpson na frente da tv. E não para por aí, essa história começou, até onde eu me lembro, lá no “Atchim, Resprin”. Mas deve haver uma esperança, já tem publicitários que saíram das onomatopéias e rimas infantis como os gênios da campanha do Melhoral: “Melhoral melhoral pra você ficar legal”. E o melhor é que o avanço não ficou só na sentença maior, mas esse slogan é, pasmem, cantado.

Outro produto cujas campanhas publicitárias têm sido dignas de prêmios cannes são as de telefones e operadoras de celulares. O celular que passa por de baixo da porta, o celular que tem lanterna e vai te livrar do bar do Hannibal Lecter e por aí vai.

As montadoras de veículos também estão se especializando em aprovar propagandas ruins. A campanha do novo Celta é simplesmente sensacional, uma coisa meio gladiador, com coração valente e um velhinho no melhor estilo senhor dos anéis, que como que por mágica, invoca o “Deus Celta” que ao derrapar joga uma pedra na cabeça do guerreiro adversário. É simplesmente incrível, posso comprar um Celta e ficar tranqüilo, pois, se algum dia eu me vir naquela situação estarei protegido.

Mas eu guardei o melhor para o final, as propagandas de lojas de departamentos que são, definitivamente, o estereótipo da sociedade brasileira, não importa a qualidade e sim a quantidade de ofertas. Não importa a taxa de juros, e sim que a parcela caiba no bolso. Não importa o horário e o canal, passam em todos os horários e em todos os canais.

Deve existir uma rede secreta de informações que mina das agências de publicidade as mentes criativas. Essas devem ser exiladas ou lobotomizadas de modo que só produzam lixo de primeira qualidade. Mas, por enquanto, ainda temos a opção de desligar a tv.