Toda a dor poderia ser física.
Todo os dias morro um pouco mais, claro, a própria ciência já diz isto, começamos a morrer no dia em que nascemos. Mas a morte biológica é natural, é saudável, como disse Raul: “O caminho da vida é a morte”.
Todo medo deve ser enfrentado.
A última vez em que morri, foi no Lar das Maravilhas, muitos me invejariam porque não deve haver lugar melhor para morrer. Quem conhece o lugar sabe como as coisas acontecem. Eu sabia como as coisas aconteceriam, e sabia que eu poderia morrer lá. Mas então que ímpeto suicida me leva a própria destruição? Eu queria enfrentar a morte, queria dançar com ela e no outro dia acordar limpo. Eu dancei com ela, a noite quase toda, e dentro de mim havia uma mistura embriagante de medo e desejo, mas não o desejo no sentido nu e cru da palavra, mas o desejo de enfrentá-la. O Lar das Maravilhas era só um pano de fundo para minha Odisséia, onde eu sairia do tenro e doce conforto da minha terra e enfrentaria mares, deuses, demônios para depois retornar como um vencedor, dizendo para meus botões: “...viu? Você conseguiu. Você continua limpo!!”.
Toda vergonha deve ser escancarada...
Os gestos mais inocentes, que demonstram o companheirismo, a cumplicidade, o respeito e a intimidade, podem se tornar na antítese de todos esses substantivos como que por pura mágica, entrando em um ciclo maldito em que a mão que afaga é a mesma que apedreja. Estes gestos foram as armadilhas que a morte me preparou enquanto eu dançava com ela, quando eu achava que eu ia finalmente aprender a lidar com ela, pronto ela me derrubou.
Toda morte deveria ser única...
Eu morri. Quem já morreu sabe qual é a sensação. O estar morrendo é mais confortável que a morte propriamente dita. Enquanto estamos morrendo, parte de nós ainda está apegada a vida, normalmente a parte racional faz isto, tentando convencer o todo de que nada aconteceu, e que os delírios não têm fundamento. Mas a parte que já está morrendo não está nem aí, os apelos do lado racional tornam-se ecos distantes enquanto que o calor da consciência vai sumindo e vamos ficando pequenos, pelados, sozinhos... A dimensão dos mortos é úmida o chão está sempre molhado, é sempre escuro e frio. O mundo real passa a ser visto através de uma janela que liga as duas dimensões, as pessoas que continuam vivas, conseguem me ver, tentam falar comigo, eu consigo ouvi-las, mas a comunicação é difícil. Além da janela para o mundo real existe a porta do inferno, mas ela não é como todo mundo pensa, ela não tem adornos demoníacos, nem está ardendo em chamas. Ela simplesmente bloqueia a janela do mundo real. E quanto mais eu morro, mais próximo dela eu fico.
Toda angústia é humana...
Acordei.
Ainda estou morto?
Ainda.
Mas a porta do inferno está um pouco mais longe.
O que pode ser um bom sinal.
Até me deu vontade de fazer alguma coisa.
Beleza.
Estou quase vivo.
Mas sei que ainda estou na dimensão da morte, porque ainda sinto o chão molhado e ainda estou nu.Preciso ter muito cuidado, não posso deixar que os outros percebam que estou morto.
Isto definitivamente não é bom.
Vou fazer como eu sempre faço.
Esperar.
Uma hora passa.
E se não passar?
Sempre passa.
Lembra?
Sempre passa e sempre volta.
E vai ser sempre assim?
Gostaria que não.
Tente se manter longe da porta do inferno.Wagner Alves
9 Comments:
Começou bem, hein !?!?!?!
Texto leve, sereno...
Já tomou seu remedinho tarja preta hoje ?
BEM VINDO A BLOGÓPOLIS !!!
Olá Wagner,
me chamo Luiz sou ator, resido no Rio de janeiro e gostaria muitíssimo de sua permissão para adapotá-lo ao teatro e encenar uma esquete, como faço para ter sua autorização?
meu e-mail: lhjr@hotmail.com
espero retorno
forte abraço
Ola.. gostei bastante do texto.. e assim como nosso amigo El Jay... tbm sou atriz, e gostaria da sua permissao para poder gravar este monólogo! meu email é:
drica_vboas@hotmail.com
oi meu nome Rosana cidreira gostaria da sua permição para apresentar o seu texto numa ocupação cultural.
se poder ficarei muito grata.mande-me sua resposta.
zana.16@hotmail.com
beijos
ADOREI EU GANHEI MELHOR ATOR EM UM ESPETÁCULO
o texto começa bem mas é muito longo para eu aprensentar quarta...obrigodo...
Oi, me chamo Lis, também sou atriz e gostaria de fazer uma adaptação ao teatro com seu texto, podes entrar em contato comigo? meu Email é lisbdc@hotmail.com.
obrigada
Nossa, obrigada, minha professora pediu para eu pesquisar sobre textos monólogos e só de ler eu ja entendi oque é, muito, muito abrigada mesmo!
Olá, primeiramente parabéns pelo seu texto! Adorei! Tenho um teste semana que vem e preciso de um monólogo, posso utilizar seu texto adaptado?
Aguardo resposta.
Desde já agradeço.
Att,
Carolina
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